Ex-conselheira europeia de Barroso e Moedas, atual eurodeputada, diz ser preciso mais ambição com renováveis e eficiência energética.
A meta já era ambiciosa – uma Europa neutra em carbono até 2050 -, mas a guerra mudou tudo. E agora há que “aumentar e ser mais ambicioso com as renováveis e a eficiência energética e depois diversificar a entrada de gás vindo de outros sítios. Tornar a Europa independente do gás que importa da Rússia e com várias estratégias”.
Maria da Graça Carvalho, atual eurodeputada, que foi conselheira do ex-presidente da Comissão Europeia Durão Barroso e do antigo comissário Carlos Moedas e ministra, por duas vezes, da Ciência e do Ensino Superior, diz que é necessário “aumentar a percentagem do que estamos a fazer agora. Estamos a discutir um pacote que vai dar corpo ao Green Deal [o pacto ecológico europeu], que tem 17 dossiês para cada uma das áreas. Estamos ainda a negociar a diretiva das renováveis, mas vai aumentar em relação a uma meta que já era ambiciosa”.
A urgência passa por ter, nomeadamente na eficiência energética, “targets obrigatórios que não existiam, mas que agora vão passar a ser vinculativos, e por país”.
As metas, assegura, são “ambições exequíveis”, não se vão repetir os erros de “termos metas muito ambiciosas que depois não conseguimos cumprir”, porque existe a “preocupação na Comissão de Investigação Científica da Indústria e da Energia de ver quais são as tecnologias existentes e em desenvolvimento que permitem chegar àquelas ambições”.
No caso português, “as metas de 20-30 estão já aí e têm de ser atingidas com as tecnologias que já temos agora, não há tempo para desenvolver tecnologias completamente novas. Para 20-30 o que está em cima da mesa é uma meta de 45% de renováveis, e isso para Portugal é perfeitamente exequível. Há outros países que têm muito mais dificuldade nesse aspeto, nomeadamente os que ainda têm carvão e muito gás”.
Os problemas “provavelmente” – um provavelmente que é praticamente uma certeza – vão “estar na eficiência energética dos edifícios. É um problema que temos de resolver, mas será preciso muito investimento de norte a sul para garantir a eficiência energética”.
Dinheiro parece haver, “o Plano de Recuperação e Resiliência tem isso como prioridade, não tem um valor concreto previsto, mas espero que seja aproveitado num valor substancial de recuperação”.
As vantagens, defende a eurodeputada, são muitas, a começar pelo que vai criar de imediato na economia: “É mão de obra intensiva é mão de obra local, usa produtos locais e o setor da construção é muito competitivo e tem muitas valências em Portugal.” E depois são “as vantagens para as famílias, especialmente para os bairros e cidades. Porque um bairro que está bonito tem muito menos criminalidade, muito menos violência e as pessoas sentem-se muito melhor”.
“Porque recuperar a eficiência energética, ao mesmo tempo, recupera o edifício. Os bairros ficam mais bonitos, as pessoas têm vidas mais confortáveis e mais saudáveis. Há muitas doenças, tais como as reumáticas, que são devido às pessoas passarem muito frio em casa”, sustenta.
A renovação das casas, que contará com mais de 72 mil milhões de euros, durante sete anos, do novo Fundo Social para a Ação Climática, prevê apoios para os cidadãos “mais afetados ou em risco de pobreza energética ou de mobilidade”. Ou seja, “renovação de edifícios, o acesso a soluções de mobilidade com emissões nulas ou baixas, ou mesmo o apoio ao rendimento”.
No gás, a solução é “diversificar e considerar o gás uma energia de transição, diversificar a vinda de outros países, usar o gás natural liquefeito, e aí é que a Península Ibérica tem um papel muito importante, porque tem vários portos de gás natural liquefeito, nomeadamente em Portugal”.
Maria da Graça Carvalho elogia a solução do governo “que é o gás chegar em grandes navios e depois transformarem-nos em pequenos navios, porque os portos do Norte da Europa estão muito saturados em capacidade”, mas a “estratégia boa tem limitações”.
A melhor solução é, defende, “reforçar as ligações por gasoduto com França” e aproveitar “agora que os franceses já parecem estar de acordo”. Há, no entanto, uma imprevisibilidade: “Já várias vezes estiveram de acordo e as interligações ainda não existem. Esperemos que agora, com esta situação de guerra, a França perceba que estas ligações são mesmo necessárias. Até porque a construção demora dois ou três anos, não é fácil de um momento para o outro ficarmos completamente independentes do gás da Rússia.”
“Temos metas para 20-30 e metas para 20-50, mas é preciso diminuir a burocracia, ser muito mais flexível. Estamos a pensar agora no que é preciso mudar no futuro da Europa e essa é definitivamente uma das primeiras coisas a mudar, a burocracia. É preciso uma maior abertura também, não podemos estar aqui enclausurados”, avisa a eurodeputada.
Fonte: Europa vai exigir mais energia de fontes renováveis (dn.pt)